Às vésperas de eleição, Argentina tem inflação de quase 140% ao ano
Índice de preços tem maior alta dos últimos 32 anos e dólar dispara na reta final da corrida eleitoral.
Às vésperas das eleições presidenciais, a Argentina se vê mergulhada numa grave crise econômica. O Índice de Preços ao Consumidor teve a maior taxa mensal dos últimos 32 anos no país. O aumento foi de 12,7% em setembro. No acumulado em 12 meses, a alta chegou a 138,3%.
O setor de alimentos foi um dos mais afetados. Subiu 14,3% em setembro, acima do crescimento registrado pelos preços em geral. Ernesto Acuña, vice-presidente da União de Lojas de Conveniência da Argentina, conta que recebe listas com valores 10% mais altos todo mês. Ele lembra ainda da influência do dólar, que disparou. À medida que Ernesto remarca os preços, os consumidores reduzem as compras em quantidade, e qualidade.
"Eu antes vendia mais deste chocolate e agora vendo mais deste. Tem gente que passa do grande ao pequeno e gente que passa do pequeno a nada", conta Ernesto.
O argentino Enzo Cardozo, de 52 anos, ficou sem trabalho há três anos. Largou o curso de medicina e, com os poucos bicos que aparecem, não restou muita escolha: ou compra comida, ou paga as contas de casa. Enzo se alimenta graças às refeições doadas por voluntários na Praça de Maio, no centro de Buenos Aires.
A alta inflação não é novidade na Argentina, mas a disparada dos preços tem sido acelerada pela corrida eleitoral. O primeiro turno acontece no dia 22 de outubro. Nesta reta final, a forma de lidar com a atual situação econômica do país vem dominando as estratégias de campanha dos candidatos. Sergio Massa, candidato e ministro da Economia, tem emitido dinheiro de forma descontrolada, na tentativa de manter o consumo, mas isso também tem alimentado a inflação.
Javier Milei, que aparece como favorito nas pesquisas de intenção de voto, fez inúmeras declarações a favor da dolarização. Em entrevista a uma rádio argentina, ao ser questionado se os correntistas deveriam renovar suas poupanças em pesos, respondeu: "Jamais em pesos". Milei chegou a comparar a moeda com excremento, dizendo que não serviria nem para adubo.
A declaração provocou uma corrida cambial no país. O dólar subiu 40% só nas últimas duas semanas. O governo elevou de 75% para 100% impostos e taxas para desestimular a compra de produtos em moeda estrangeira. O Banco Central da Argentina proibiu os bancos de comprarem dólares para melhorar os ativos.