Apesar de “recomposição da ciência”, ministra alerta para exclusão das mulheres em universidades
Mulheres representam 65% da carreira em iniciação científica, mas número cai para 35% quanto mais se aproximam do topo, aponta Luciana Santos
Em entrevista ao Poder Expresso, Luciana Santos, ministra da Ciência e Tecnologia, comemorou o que ela chamou de “recomposição da ciência”, com o retorno de investimento e vontade política na área, após listar uma série de retrocessos ocorridos durante o governo Bolsonaro. Entre eles, “o obscurantismo, o negacionismo, seja para reescrever a história, seja para negar as evidências científicas”. Apesar do momento positivo, Luciana alerta para o fato de as universidades permanecerem ambientes excludentes, principalmente para as mulheres.
A ministra apontou que durante o período de iniciação científica, as mulheres representam 65% da carreira. No entanto, ao se aproximar do topo, em termos de bolsas de produtividade, o número cai para 35%.
Ao ser questionada sobre o caso de uma pesquisadora que teve bolsa de estudos negada por causa de uma gravidez, Luciana Santos afirmou: “Nós estamos muito atentas para poder exatamente modificar alguns dos critérios que são estabelecidos hoje. As mulheres muitas vezes têm mais dificuldade de ter o tempo exclusivo para se dedicar ao estudo e à pesquisa. Então, nós vamos ter que ter um tratamento específico para as condicionantes específicas de ser mulher”.
“No meio do caminho, aparecem as amarras desses condicionantes que eu acabei de mencionar. Então nós vamos ter que ter políticas que revertam essa situação, que protejam. É um direito da mulher poder ter esse exercício de cuidados com a família. É básico de qualquer ser humano, o amor ao próximo, o cuidado com o outro”, defendeu.
“Fuga de cérebros”
Outro consequência dessa falta de práticas mais humanizadas na comunidade científica diz respeito à “fuga de cérebros” do Brasil, quando o país acaba não tendo retorno de seus estudantes e pesquisadores, pois preferiram permanecer no exterior por meio de bolsas ou parcerias com universidades.
“Essa é uma das nossas principais preocupações, tanto que colocamos dentro dos 10 programas do Fundo Nacional de Desenvolvimento e Ciência e Tecnologia. Entre itens como a recuperação da infraestrutura de pesquisa, combate à fome e agenda da industrialização, há um item voltado ao retorno dos estudantes brasileiros. Primeiro, estamos analisando caso a caso. O CNPq tem instâncias de multas impagáveis, então é preciso encontrar saídas junto aos órgãos de controle para mitigar essas situações, de modo que aquele pesquisador se sinta confortável para voltar ao país”.
Em outros casos, continua Luciana, ela afirma que mesmo que o pesquisador opte por permanecer fora do Brasil, ele consiga contribuir de alguma forma, seja com uma rede de pesquisa, por exemplo. “É esse caminho que nós estamos vendo para poder aproveitar ao máximo esses cérebros que são brasileiros e que estão perdidos aí pelo mundo”, explicou.
Confira: