50 anos após morte de Vladimir Herzog, ato inter-religioso homenageia jornalista em SP
Cerimônia na Catedral da Sé recria missa de sétimo dia do ex-diretor de jornalismo da TV Cultura, que desafiou ditadura militar em pleno AI-5


Emanuelle Menezes
A morte do jornalista Vladimir Herzog, brutalmente assassinado pela ditadura militar em 25 de outubro de 1975, completa 50 anos neste sábado (25). Para lembrar o jornalista e ex-diretor de jornalismo da TV Cultura, um ato inter-religioso será realizado na Catedral da Sé, em São Paulo, a partir das 19h, recriando a histórica missa de sétimo dia de Herzog – considerada um marco na luta pela redemocratização do Brasil.
A cerimônia deste sábado remonta o evento de 1975, que reuniu mais de 8 mil pessoas e desafiou a repressão do Ato Institucional nº 5 (AI-5), decreto que aprofundou a censura e perseguição política no país. Na época, a missa foi celebrada pelo cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o reverendo James Wright.

O evento é organizado pelo Instituto Vladimir Herzog (IVH), a Comissão Arns e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP). A programação prevê participação do Coro Luther King, seguida de manifestações inter-religiosas, com a presença de Dom Odilo Pedro Scherer e da reverenda Anita Wright – filha de Jaime Wright.
Estarão presentes no evento ainda amigos e familiares do jornalista, além do vice-presidente Geraldo Alckmin e da ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. A presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, Eugênia Gonzaga, e Nancy Hernández López, presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, também confirmaram presença.
Segundo o IVH, o ato será dedicado "não apenas à memória de Herzog, mas também a todas as famílias que perderam entes queridos durante a ditadura".
Morto pela ditadura
Vladimir Herzog foi torturado e assassinado aos 38 anos, em 25 de outubro de 1975, no Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em São Paulo. Diretor de jornalismo da TV Cultura, ele havia se apresentado espontaneamente no dia anterior, para prestar depoimento sobre uma suposta ligação com o Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Preso, ele foi torturado e morto por agentes da repressão. Uma foto de Herzog pendurado pelo pescoço por um cinto, em uma janela com altura menor que a dele, com os joelhos dobrados, foi usada pela ditadura militar como "prova" de que o jornalista havia se suicidado.
A versão foi desmentida após uma investigação, cobrada pela esposa Clarice Herzog, e facilmente evidenciada pelos peritos. Três anos depois, o governo federal foi responsabilizado pela morte do jornalista.

Em 2013, após solicitação da Comissão Nacional da Verdade, o atestado de óbito do jornalista foi retificado, substituindo o laudo de "asfixia mecânica por enforcamento" por "lesões e maus tratos sofridos durante o interrogatório em dependência do 2º Exército (DOI-Codi)" como causa da morte. Cinco anos depois, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Estado brasileiro por não investigar e punir os responsáveis pela morte de Herzog.
Quem foi Vladimir Herzog
Vladimir Herzog, nascido Vlado Herzog em 27 de junho de 1937, em Osijek (então Iugoslávia, hoje Croácia), era filho de judeus que fugiram da perseguição nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Depois de passarem por cidades na Itália e por um campo de refugiados em Bari, os Herzog desembarcaram no Brasil em 1946.
Em São Paulo, Herzog estudou no Colégio Estadual Franklin D. Roosevelt e se graduou em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) em 1962.
Aos 21 anos, em 1959, iniciou sua carreira no Estado de S. Paulo. Passou pela revista Visão, onde se destacou como editor de cultura, e trabalhou no Serviço Brasileiro da Rádio BBC de Londres, de 1965 a 1968.

Na televisão, atuou na TV Excelsior, na TV Universitária da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e, nos anos 1970, se consolidou na TV Cultura de São Paulo, onde chegou a dirigir o departamento de jornalismo.
Herzog também teve intensa participação sindical e defendia um jornalismo crítico, ético e independente, princípios que marcaram sua trajetória até sua morte em 1975, durante a ditadura militar.
Instituto Vladimir Herzog
Criado em 2009, o Instituto Vladimir Herzog mantém viva a memória do jornalista e seu compromisso com a democracia. A instituição atua em três frentes principais:
- Educação em direitos humanos, promovendo cidadania e cultura de direitos;
- Jornalismo e liberdade de expressão, apoiando estudantes e profissionais da imprensa;
- Memória, verdade e justiça, para que os crimes da ditadura não sejam esquecidos.
O instituto também aborda temas contemporâneos, como gênero, raça e meio ambiente, reafirmando o legado de Herzog como símbolo de dignidade e resistência.







