Países avançam nas metas climáticas, mas ONU alerta que ritmo ainda é insuficiente
Relatório a poucos dias da COP30 mostra que as novas metas devem levar a um pico de emissões antes de 2030, seguido por uma redução média de 11% a 24% até 2035


Giovanna Colossi
Dez anos depois do Acordo de Paris, a ONU divulgou um novo balanço sobre o que os países estão fazendo para combater as mudanças climáticas. O relatório mostra que há avanços reais, mas ainda falta velocidade para que o mundo consiga limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, objetivo central do acordo.
O documento, publicado nesta terça-feira (28) pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), analisa 64 novas metas nacionais de redução de emissões, conhecidas como NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas).
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Essas metas foram apresentadas entre janeiro de 2024 e setembro de 2025 e representam cerca de 30% das emissões globais.
Países prometem cortar emissões, mas precisam fazer mais
Segundo a ONU, a maioria dos países aumentou o nível de ambição em relação às promessas anteriores. Quase 90% das novas metas cobrem toda a economia, incluindo energia, transporte, indústria e agricultura.
Ainda assim, as projeções indicam que, se todas forem cumpridas, as emissões globais cairão 17% até 2035 — um avanço, mas ainda insuficiente para conter o aquecimento dentro do limite seguro.
"Dez anos após a adoção do Acordo de Paris, podemos dizer simplesmente: ele está gerando progresso real. Mas precisa funcionar de forma muito mais rápida e justa, e essa aceleração precisa começar agora", afimrou Simon Stiell, secretário-executivo da ONU para Mudanças Climáticas.
A neutralidade de carbono (o equilíbrio entre o que se emite e o que se retira da atmosfera), é uma meta comum: a maioria dos países pretende alcançá-la entre 2040 e 2060, com 2050 como ano mais citado.
O relatório aponta que as novas metas devem levar a um pico de emissões antes de 2030, seguido por uma redução média de 11% a 24% até 2035, em comparação com os níveis de 2019. Entre as principais medidas estão o reflorestamento, a energia solar e a redução do desmatamento.
Ainda segundo o relatório, além de cortar emissões, os países também estão se preparando para enfrentar os efeitos já visíveis da crise climática. Cerca de 73% das novas metas incluem ações de adaptação, como investimentos em segurança alimentar, gestão da água, saúde pública e prevenção de desastres naturais.
Os prejuízos causados por enchentes, secas e tempestades também ganhou destaque, segundo a ONU. Mais de 90% dos países que mencionaram adaptação incluíram medidas para reduzir ou compensar esses impactos.
Contudo, falta dinheiro para financiar a transição. O estudo mostra que muitos países, especialmente os em desenvolvimento, não têm recursos suficientes para cumprir suas metas.
As NDCs mais recentes estimam uma necessidade total de cerca de US$ 2 trilhões para implementar as ações prometidas.
Desse total, US$ 1,3 trilhão seria usado em medidas de redução de emissões, e US$ 560 bilhões em adaptação.
A ONU reforça que a cooperação internacional e o apoio financeiro serão fundamentais. Entre as soluções apresentadas pela organização, estão fundos multilaterais, títulos verdes e novas formas de investimento sustentável.
Florestas, oceanos e inclusão social ganham destaque
As florestas aparecem como parte essencial da estratégia global. Vários países reforçaram compromissos com o programa REDD+, que recompensa ações de combate ao desmatamento.
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O papel dos oceanos também cresceu: Os países relataram um aumento significativo nas ações climáticas voltadas aos oceanos em comparação com as NDCs anteriores. Nas novas metas, 78% dos países incluíram ao menos uma referência explícita ao oceano — um crescimento de 39%.
Outro avanço é a inclusão social nas políticas climáticas:
- Nas novas NDCs, 89% dos países forneceram informações relacionadas a gênero e 80% afirmaram que levarão esse aspecto em conta na implementação de suas metas climáticas.
- Um total de 88% dos países apresentou informações sobre como crianças e jovens foram ou serão considerados no desenvolvimento e na implementação das metas climáticas nacionais.
- Um total de 72% dos países relatou um maior foco no papel fundamental dos povos indígenas e das comunidades locais na adaptação e mitigação das mudanças climáticas — em comparação com 66% no relatório anterior.
- e todos os países falaram em educação e conscientização climática, reconhecendo que o envolvimento da sociedade é essencial.
ONU pede agilidade
O relatório conclui que os países estão no caminho certo, mas ainda longe do ritmo necessário para evitar os piores impactos do aquecimento global.
Segundo Simon Stiell, as emissões estão diminuindo, mas não rápido o bastante.
“Os países estão curvando a trajetória das emissões para baixo, mas ainda não com rapidez suficiente”, afirmou Stiell.“Precisamos acelerar as ações e garantir que os benefícios da transição cheguem a todos.”









