Chuvas recentes tiraram reservatórios de SP da crise? Especialista explica por que não
Principais reservatórios da Grande São Paulo continuam em faixas de alerta; entenda

Caroline Vale
Apesar das chuvas registradas nesta semana, o nível dos reservatórios da Região Metropolitana de São Paulo praticamente não mudou. O Sistema Integrado Metropolitano (SIM), que reúne os sete principais mananciais responsáveis pelo abastecimento da Grande São Paulo, opera com 28,2% da capacidade total nesta sexta-feira (31), o que o mantém na faixa 3 de alerta.
O Sistema Cantareira, responsável pelo fornecimento de água para cerca de 9 a 10 milhões de pessoas, opera com 23,4% de volume útil, dentro da faixa 4 de restrição, que já prevê redução de pressão na rede por até 12 horas diárias. O Alto Tietê, que atende mais de 4,5 milhões de moradores, também está nessa faixa, operando com 22,3% da capacidade.
Diante do cenário, o Governo de São Paulo anunciou um plano de contingência para enfrentar a crise hídrica. O programa prevê redução da pressão da água em até 16 horas diárias, rodízio de abastecimento e até o uso do volume morto dos reservatórios em casos extremos.
Ao SBT News, o engenheiro ambiental Felipe Fengler, professor do Centro Universitário Facens, explicou que o baixo nível dos reservatórios é resultado de uma combinação de fatores. “É uma medida que reflete aspectos hidrológicos que estão relacionados ali com a hidrologia das bacias que abastecem eles, também estão relacionados com aspectos climáticos que vão desde locais, regionais e até globais”, afirma.
O professor lembra que a falta de chuvas regulares e a alta demanda urbana comprometem a recomposição dos volumes. Ele diz que o reservatório funciona como uma caixa d’água: guarda água para o período de estiagem, quando rios que abasteceriam as cidades não têm vazão ou não conseguem garantir a disponibilidade hídrica suficiente.
Por que os reservatórios não sobem rápido após as chuvas?
De acordo com Fengler, o histórico recente de crises hídricas nos últimos 10 anos também ajuda a entender por que a recuperação tem sido lenta. "A gente teve, nesse período, algumas crises hídricas bem graves e isso vai abatendo cada vez mais a capacidade do reservatório retornar aos 100%", diz.
“A gente não está tendo chuva suficiente para recarregar completamente e, quando tem, causa um monte de alagamento, pois elas vêm de uma vez, em grande quantidade, o que é ruim”, explica.
O especialista também destacou que a urbanização crescente das bacias e o deterioramento ambiental dos rios e solos dificultam o processo natural de recarga.
Ainda segundo o professor, as bacias estão mais urbanizadas, e os rios, mais degradados: "Isso também retarda o processo de reabastecimento dos reservatórios e, quando ocorre, ocorre por uma vazão rápida, ou seja, ele enche rapidamente e depois ele tem que liberar o excedente, caso contrário pode haver problemas ali nas comportas e nas represas."
Fenômenos climáticos e perspectiva
O cenário é agravado por fenômenos climáticos globais, como a recente transição do El Niño para La Niña, que altera o regime de chuvas na região. “Quando há La Niña, especialmente nas fases mais fracas, costumamos ter menos precipitação na região. E é o que vem acontecendo neste ano”, observa Fengler.
Segundo o especialista, o solo ainda está muito seco devido à estiagem prolongada, o que retarda o efeito das chuvas recentes. “Só depois que ele estiver saturado com água é que o escoamento superficial começa a ocorrer de forma mais satisfatória, contribuindo para o aumento de vazão dos rios e também para o aumento do nível dos reservatórios”, completa.
Fengler alerta ainda que o cenário pode estar ligado à mudança climática. “As previsões indicavam que o Sudeste ficaria mais seco, com chuvas concentradas e estiagens prolongadas. Infelizmente, isso parece estar se confirmando”, disse.
"É todo um conjunto de fatores que cria esse cenário onde a gente vai ficando cada vez mais vulnerável à estiagem, cada vez mais vulnerável à escassez hídrica. É um contexto grande e sistêmico, não adianta a gente tentar atuar também de forma pontual. Tem que ser uma ação coordenada e sistêmica para conseguir tratar", finaliza.









