Lesão no joelho: Por que acontece, quando operar e como acelerar a recuperação
Cada vez mais comum entre jovens e praticantes de esportes, a lesão pode exigir meses de reabilitação


Brazil Health
O ligamento cruzado anterior (LCA) é uma das estruturas mais importantes do joelho. Ele conecta o fêmur à tíbia e garante estabilidade nos movimentos rotacionais e nas mudanças de direção. Quando se rompe, o paciente sente dor; o joelho incha, perde estabilidade e, muitas vezes, ouve-se um estalo na hora da lesão.
Embora muitas vezes seja associada a esportes de contato, como o futebol, ou a modalidades populares como o beach tennis, a maioria das rupturas ocorre sem choque direto. Um simples movimento de rotação, uma aterrissagem com o pé apoiado no chão ou uma mudança brusca de direção pode gerar forças suficientes para romper o ligamento.
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Quem tem mais risco de romper o LCA
A lesão é mais frequente em homens jovens, mas cresce rapidamente entre mulheres e adolescentes. Diferenças anatômicas, hormonais e de controle neuromuscular explicam parte desse aumento.
Desequilíbrio muscular também é um fator importante: quando há fraqueza dos músculos posteriores da coxa (isquiotibiais) em relação aos anteriores (quadríceps), o joelho fica mais suscetível. Além disso, a fadiga após treinos longos reduz os reflexos e o controle do movimento, elevando o risco de entorse.
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Cirurgia ou fisioterapia? Cada caso é único
Nem toda lesão do LCA precisa ser operada, mas a maioria sim. Em pessoas com menor exigência esportiva e idade mais avançada, pode-se tentar manter a estabilidade com fortalecimento e fisioterapia. Para quem pratica esportes rotacionais ou de impacto, ou sente o joelho falsear, a reconstrução do ligamento costuma ser indicada. Tecnicamente, utilizam-se incisões pequenas e a visualização por meio de uma câmera, utilizando os tendões do próprio paciente para refazer o ligamento. O período de reabilitação varia de nove a doze meses, conforme a resposta individual, mas as duas primeiras semanas são as que mais exigem um processo acelerado de recuperação.
Durante esse período, é fundamental seguir o plano de fisioterapia, que inclui fortalecimento, equilíbrio e treino de movimentos funcionais até o retorno completo às atividades.
Como os tratamentos biológicos podem ajudar?
Nos últimos anos, o avanço das chamadas terapias biológicas tem transformado a ortopedia, e o tratamento das lesões do LCA também tem sido beneficiado.
Entre os recursos mais estudados estão o plasma rico em plaquetas (PRP) e as células-tronco mesenquimais, obtidas do próprio paciente. Essas substâncias concentram fatores de crescimento e células com potencial regenerativo, capazes de estimular a cicatrização dos tecidos e reduzir o processo inflamatório.
Na prática, o PRP pode ser aplicado durante ou após a cirurgia para favorecer a integração do enxerto. Já as células-tronco podem auxiliar no reparo de lesões parciais do ligamento ou acelerar a cicatrização tecidual. Entretanto, o número de evidências ainda é insuficiente para colocar essas infiltrações como rotina nos casos de lesão.
Embora as evidências ainda estejam em evolução, estudos recentes sugerem melhora na recuperação funcional, menor dor no pós-operatório e menor tempo de integração ligamentar quando se associam terapias biológicas à recuperação, sempre com acompanhamento especializado.
Prevenção continua sendo o melhor tratamento
Mesmo com técnicas cirúrgicas avançadas e terapias biológicas promissoras, nada substitui a prevenção. Programas específicos de fortalecimento e controle neuromuscular podem reduzir em mais de 50% o risco de ruptura do LCA. O treinamento mais conhecido é o FIFA 11+, desenvolvido pela FIFA, voltado à prevenção em atletas profissionais de futebol, mas que pode ser extrapolado para uso geral.
Exercícios de equilíbrio, coordenação, saltos controlados e aterrissagens seguras devem fazer parte da rotina de atletas e amadores.
A lesão do LCA lembra que o joelho, apesar de forte, tem limites. Cuidar da musculatura, respeitar o corpo e buscar orientação médica ao menor sinal de instabilidade são atitudes simples que fazem toda a diferença — tanto para quem quer evitar a lesão quanto para quem deseja voltar com segurança às atividades.
* Camila Cohen Kaleka é ortopedista, com mestrado na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, doutora pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein e membro da Brazil Health









