Ramon Dino inspira novos atletas e reacende debate sobre o uso de anabolizantes no fisiculturismo
Vitória inédita do acreano no 'Mr. Olympia' coloca o Brasil no mapa do esporte e acende debate sobre os limites entre performance e saúde
Juliana Tourinho
O “dinossauro acreano”, como é conhecido Ramon Dino, percorreu as ruas de São Paulo exibindo a medalha no peito e recebendo aplausos de fãs e curiosos. O brasileiro fez história ao se tornar o primeiro atleta do país a vencer uma categoria no Mr. Olympia, o torneio de fisiculturismo mais importante do mundo, realizado em Las Vegas.
Para muitos praticantes, o feito do atleta abre portas para novos talentos e reforça a importância de se discutir os limites entre performance e saúde.
“O Ramon é um marco na nossa história esportiva. Ele traz luz pra um esporte que tem tanto preconceito. Se tivermos mais oportunidades, vamos descobrir muitos outros talentos”, disse Rafael Toledo Prado, praticante da modalidade e preparador físico.
Apesar de o próprio Ramon admitir o uso de esteróides anabolizantes, adeptos do chamado fisiculturismo natural aproveitam o momento para defender os treinos ao estilo tradicional, com dieta alimentícia e acompanhamento médico.
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Anabolizante X fisiculturismo natural
A Agência Mundial Antidopagem (WADA) lista substâncias proibidas em competições, como anabolizantes, hormônios, diuréticos e estimulantes. Mas, segundo especialistas, até medicamentos comuns podem conter componentes dopantes, exigindo atenção dos atletas e acompanhamento médico.
“Há substâncias que as pessoas não imaginam que podem causar doping, como remédios para gripe ou asma. Por isso é importante o atleta informar a federação e apresentar laudos médicos”, explica o preparador físico Rafael Toledo Prado.
Entre a busca por desempenho e o desejo de manter o corpo saudável, o fisiculturismo natural vem ganhando espaço no Brasil. A modalidade preza pelo resultado obtido apenas com treino, alimentação equilibrada e paciência.
“Eu vejo o fisiculturismo como um esporte de tempo e longevidade. É possível evoluir sem o uso de substâncias proibidas”, afirma o médico e atleta Gabriel José dos Santos.
Mesmo assim, em muitas federações que se denominam naturais, a fiscalização e os testes antidoping ainda são pouco frequentes, o que mantém o debate sobre a credibilidade das competições.
“O atleta pode passar no teste, mas isso não significa que nunca tenha usado algo”, ressalta Rafael.
De Fortaleza, o jovem Ricardo Lobo, de apenas 18 anos, sonha seguir os passos do ídolo acreano. Ele já participou de quatro competições neste ano e ficou entre os cinco melhores colocados.
“Quero chegar ao Mister Olympia. Este ano participei do Arnold, Correa Classic, Muscle Brasil e Fortaleza, e fiquei entre os top 5, graças a Deus”, conta.
O maior nome da história do campeonato ainda é Arnold Schwarzenegger, o ator que eternizou o papel de “Exterminador do Futuro” e conquistou o título sete vezes — a primeira, em 1970, quando tinha apenas 20 anos.
Com o brilho de Ramon Dino, o fisiculturismo brasileiro vive um novo momento: entre o glamour das competições e o desafio de conquistar respeito e reconhecimento como esporte de verdade.









