Governo dos EUA não cancelou o visto do general Paiva
Não há registros oficiais ou declarações que confirmem a afirmação de uma postagem segundo a qual o visto do comandante do Exército teria sido cancelado

Projeto Comprova
Diferentemente do que diz um post no X, o visto do general Tomás Paiva não foi cancelado pelo governo dos EUA. O conteúdo verificado mostra uma foto do militar e um texto, com alguns erros de português, alegando que o visto do general foi cancelado pelo atual secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio. O Comprova não encontrou nenhuma publicação de Rubio sobre o assunto.
Os EUA cancelaram os vistos dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, de servidores ligados ao Ministério da Saúde e do próprio ministro Alexandre Padilha, e do advogado-geral da União, Jorge Messias. Em todos os casos de cancelamento de vistos, a informação foi divulgada em sites oficiais do governo americano. Não há registros envolvendo o nome de Paiva.
O Comprova também procurou o Centro de Comunicação Social do Exército para verificar se haveria alguma sanção a Paiva. Em resposta, a assessoria declarou que a informação é inverídica e lamentou “publicações especulativas e irresponsáveis” divulgadas nas redes sociais.
Ao checar o site do Departamento de Estado americano, a reportagem constatou que a mais recente nota que cita representantes brasileiros foi divulgada no dia 16 de outubro. Ela trata da reunião entre Marco Rubio, o representante de Comércio dos EUA Jamieson Greer, e o chanceler brasileiro Mauro Vieira.
O ato mais recente do governo dos EUA que envolve sanções a cidadãos do Brasil ocorreu em 22 de setembro, quando a esposa do ministro do STF Alexandre de Moraes, Viviane Barci de Moraes, foi adicionada ao rol de afetados pela Lei Magnitsky.
É sabido, contudo, que bolsonaristas fizeram uma articulação política que visava incluir Paiva na relação de pessoas sujeitas à punição com o cancelamento do visto americano, conforme noticiado pelo Estadão em setembro
Foi anunciado, à época, que o procedimento estava sendo analisado pela administração dos EUA. O argumento era que o general teria um vínculo estreito com o ministro Alexandre de Moraes.
Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova
O perfil que publicou o conteúdo costuma compartilhar postagens de teor político e provocativo, frequentemente críticas a autoridades e instituições brasileiras. O tom da publicação é sensacionalista e parece buscar engajamento e polarização.
Não foi possível confirmar se o responsável pela publicação é o autor original da imagem ou apenas a republicou de outra fonte. Até o momento, não houve resposta ao contato para verificar as fontes ou as intenções por trás da postagem.
Por que as pessoas podem ter acreditado
A publicação usa várias táticas para enganar e convencer o público. Ela menciona nomes verdadeiros, como o senador americano Marco Rubio e o general brasileiro Tomás Miguel Ribeiro Paiva, o que dá aparência de credibilidade, mesmo sem apresentar provas. Ao usar figuras conhecidas e cargos reais, o texto faz parecer que a informação veio de uma fonte confiável.
O tom usado é firme e urgente, com frases como “hoje eu cancelo o visto” e “a partir de hoje ele está proibido”, o que passa a ideia de que a decisão já foi tomada e que se trata de um fato confirmado. Essa linguagem enfática reduz a chance do leitor questionar ou buscar uma checagem.
A imagem do general fardado reforça a sensação de seriedade e autoridade, dando ao post aparência de um comunicado oficial. O conteúdo mistura informações verdadeiras (nomes e cargos reais) com uma informação falsa (o suposto cancelamento do visto), o que confunde o público e torna o boato mais convincente.
Em resumo, a publicação é convincente porque combina aparência de autoridade, emoção, repetição e ausência de fontes verificáveis, levando muitas pessoas a acreditar e espalhar uma informação completamente falsa.
Fontes que consultamos: Canais oficiais do Departamento de Estado dos EUA, UOL, G1, Estadão e o Centro de Comunicação Social do Exército.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova, grupo formado por 42 veículos de imprensa brasileiros para combater a desinformação, monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. O SBT e SBT News fazem parte dessa aliança. Desconfiou da informação recebida? Envie sua denúncia, dúvida ou boato pelo WhatsApp 11 97045-4984.
Investigação e verificação: UOL realizou esta investigação. A revisão das informações foi realizada pelos veículos O Dia, Gazeta e Folha SP
Outras checagens sobre o tema: O projeto Comprova verificou e desmentiu a alegação de que os filhos de Barroso teriam sido deportados dos Estados Unidos ou estariam foragidos. O UOL Confere e o Aos Fatos também publicaram checagens sobre o mesmo tema, concluindo que as informações são falsas.
Notas da comunidade: Não havia notas da comunidade nas postagens no X até o fechamento desta verificação.